(Com informações do Site Portal Espera Feliz)
Na manhã do dia 25 de janeiro de 2020, exatamente quatro anos atrás, a população de Espera Feliz acordava com a maior das enchentes que já atingiram a cidade até então.
Desde a manhã do dia anterior, na sexta-feira 24 de janeiro de 2020, as águas do rio São João começaram a transbordar e inundaram diversos bairros e ruas, totalizando cerca de 30 horas consecutivas de desespero e apreensão por parte da população.
Áreas afetadas
Em seus mais de 100 anos de fundação, Espera Feliz já registrou diversas enchentes, geralmente ocorridas num intervalo médio de uma década entre uma e outra. De todas elas, houveram pelo menos duas grandes inundações que passaram a povoar o imaginário coletivo da cidade: uma ocorrida no ano de 1979 e outra no verão de 1997. Mas nenhuma delas apresentou poder tão devastador quanto a ocorrida em janeiro de 2020.
Segundo os órgãos responsáveis, cerca de 80% da área urbana foi atingida direta ou indiretamente pelas águas, que em muitos pontos ultrapassaram a altura dos 3 metros.
Por se localizarem nas partes mais baixas próximas ao rio, as áreas mais afetadas foram os bairros João Clara, Santa Inês, Santa Cecília, Patronato, a Rua Nova, a avenida Beira Rio e a rua Major Pereira.
No entanto, a “grande enchente” (como ficou conhecido este evento catastrófico) alcançou regiões onde as cheias periódicas do São João jamais haviam chegado. O centro da cidade, assim como a rua Pio XII e toda a extensão da avenida Roque Ferreira de Castro também ficaram submersas, além das ruas adjacentes à Área de Lazer e a parte baixa da avenida João Sebastião de Amorim. Com isso, calcula-se que o rio que atravessa o perímetro urbano tenha transbordado até um raio de quase 1 quilômetro além das margens, transformando a cidade em um verdadeiro lago de águas violentas e muita lama.
Milhares de casas ficaram inundadas, além de igrejas, escolas e estabelecimentos comerciais. De acordo com informações da Associação Comercial, entre lojas, mercados, padarias e farmácias pelo menos 580 comércios foram atingidos, chegando a um prejuízo entorno de 80 milhões de reais. Já em relação aos danos causados pela enchente na infraestrutura da cidade, a Prefeitura Municipal estima que a perda entre pontes e ruas danificadas também chegou à casa dos milhões.
No total, foram 126 pontes arrancadas ou demolidas pela força do transbordamento do rio, além de dezenas de ruas que tiveram as calçadas e o calçamento escavados pelas correntezas. Como a enchente atingiu uma grande parte da cidade, diversos prédios públicos também foram afetados, como as secretarias municipais de Saúde, Agricultura, Assistência Social entre outras, com perdas de materiais e equipamentos.
A zona rural de Espera Feliz também foi extremamente afetada. De acordo com a Defesa Civil e a Secretaria Municipal de Agricultura, além das várias pontes danificadas, dezenas de hectares de lavouras de café foram destruídos pelo deslizamento de encostas, deixando várias estradas vicinais interditadas e comunidades rurais praticamente isoladas por vários dias.
Trabalho de evacuação das áreas atingidas e assistência aos desabrigados
Para evitar o pior, a Polícia Militar e a Defesa Civil estiveram acompanhando de perto as áreas de risco desde o início da manhã do dia 24 de janeiro. Quando perceberam que o nível do rio não parava de subir, e mediante as previsões meteorológicas que indicavam muita chuva para o decorrer daquele dia, rapidamente as autoridades locais deram ordens de evacuação dos moradores para que deixassem suas casas e procurassem os abrigos que a prefeitura começou a providenciar desde às 12 horas daquela sexta-feira.
Ao todo, foram 2.226 pessoas desabrigadas e outras 3.100 desalojadas, a maioria dos bairros João Clara, Santa Inês, Santa Cecília e Patronato, da Rua Nova e da rua Major Pereira.
As centenas de famílias residentes dessas localidades atingidas foram acolhidas nos abrigos instalados em escolas e igrejas, sendo o principal deles o do prédio do Seminário. Durante as semanas que se seguiram após a enchente, as famílias afetadas receberam alimentação e assistência médica em todos os abrigos, além de donativos arrecadados de diversas cidades de Minas Gerais e até de outros estados que se sensibilizaram com a tragédia ocorrida em Espera Feliz.
De acordo com as autoridades, foi graças à ação conjunta entre Prefeitura Municipal, Polícia Militar e demais órgãos públicos, além das centenas de voluntários envolvidos no socorro, que a grande enchente, apesar das dimensões aterradoras, não chegou a vitimar ninguém. Durante a madrugada de 24 para 25 de janeiro muitas famílias foram resgatadas, mas não houve nenhum registro de desaparecimento ou morte.
O processo de reconstrução da cidade
Depois que as águas baixaram no final da tarde do sábado 25 de janeiro iniciou-se o processo de limpeza e reconstrução da cidade. Num esforço sem precedentes na história de Espera Feliz, a Prefeitura Municipal juntamente com centenas de voluntários da área urbana e da zona rural efetuaram os trabalhos de limpeza das ruas e avenidas atingidas, enquanto os moradores limpavam as próprias casas inteiramente enlameadas.
Foram vários dias de um árduo trabalho, com caminhões, tratores e muitas pessoas que se mobilizaram para recuperar novamente Espera Feliz. Para tudo quanto era lado se via um intenso movimento de veículos transportando lama, entulhos e escombros retirados das casas, ruas e calçadas. E em uma ação onde a solidariedade era a palavra de ordem, a população inteira trabalhou incessantemente, numa cooperação mútua para refazer literalmente a cidade das ruínas deixadas pela passagem da enchente.
A limpeza bruta gastou aproximadamente duas semanas para ser realizada, já a limpeza fina totalizou mais ou menos um mês até sua conclusão.
Em seguida, a prefeitura cuidou da infraestrutura atingida, executando obras de recuperação de pontes, ruas e a contenção das margens do rio nas imediações da avenida João Vieira da Costa.
As causas da enchente
De acordo com especialistas, o que ocasionou a enchente de 2020 foi um evento meteorológico chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Este fenômeno ocorre devido a um grande fluxo de ar quente que vem das regiões amazônicas e se convergem com a massa de ar frio que sobe do continente antártico. Geralmente o ponto de encontro entre essas duas correntes de ar ocorre exatamente sobre o Sudeste do Brasil, provocando chuvas intensas por pelo menos 4 a 5 dias seguidos.
Este grande volume de chuvas acaba gerando o que chamam de “cabeça d’água”, isto é, quando chove de maneira concentrada nas cabeceiras (ou nascentes) dos rios. No caso de Espera Feliz, o rio São João, que tem suas três nascentes localizadas na região do Taboão e Alto Grumarim, e que também recebe a descarga de água que vem do rio Caparaó, cuja nascente se localiza nas montanhas da Serra do Caparaó, acabou transbordando excessivamente por não comportar a enorme quantidade de água provocada pela ZCAS no final de janeiro de 2020. Com isso, a população foi surpreendida de madrugada pela chegada da cabeça d’água ocorrida durante aquele final de semana.
Além de Espera Feliz, diversas outras cidades da região também foram atingidas por rigorosas enchentes e deslizamentos de encostas, causando estragos e deixando milhares de pessoas desabrigadas. Entre as mais afetadas estão Carangola, Caparaó, Manhumirim, Caiana e Dores do Rio Preto.